
(My Dinner with Andre, EUA, 1981)
Drama | 110 min
Qual o segredo para um diálogo de quase duas horas ser tão acolhedor e hipnotizante? Em primeiro lugar, o texto é uma pérola de como manter a fluidez da conversa ficcional sem ser um ‘pingue-pongue’ de frases curtas. A colaboração do dramaturgo-ator Wallace Shaw e do então ex-diretor de teatro-ator Andre Gregory, que também protagonizam a produção, evitam o diálogo puramente teatral ao levar o segundo a contar histórias, algumas inacreditáveis, enquanto o outro escuta com fascínio e autocomiseração silenciosos, discretos. Nesse sentido, as atuações naturalistas ‘de si mesmos’ exploram reações e tensões sutis entre esses velhos amigos que há tempos não se viam. Sim, os beats [antes de se popularizarem como beats?] estão lá, num nível quase internalizado, com rupturas perceptíveis, pontos de vista sendo colididos. A direção de Louis Malle, por sua vez, não parece filmar a conversa pura e simplesmente mas a atmosfera dela, numa elegância simples e ao mesmo tempo nostálgica. Como se observasse aquelas pessoas pondo a conversa em dia, naquele ambiente e naquele recorte que brinca com a própria temporalidade, na superfície do ‘em tempo real’, sem transparecer estar dirigindo alguma coisa. Todavia, está. Shaw e Gregory interpretam personagens e o roteiro foi extensivamente lapidado para chegar naquele resultado. É raro termos intelectuais conversando coisas interessantes acerca da arte e da vida, cada um em sua momentânea crise existencial, mantendo o pedantismo numa nota controlada. Uma experiência fascinante, narrativamente lúcida – até o garçom de Jean Lenauer se destaca com pouquíssimas falas – e espontaneamente emocional.
F. Monteiro Júnior, Teresina (PI)