Quando dói

Sempre ao abrir os olhos permaneço uns dez minutos olhando para o teto, em alguns dias choro em outros não. Sinto muito, sobre as dores do mundo que doem em mim, sobre o meu eu que com frequência trepida, horas estremece horas se esvai. De repente é força, tão de repente quanto é nada. Um vazio cheio de tudo. Sinto muito o tempo todo. As dores que doem em mim nunca acabam. Doem-me as minhas incertezas e confusões, assim como opressões e intolerâncias. O mundo me machuca mais que as minhas próprias aflições.

Assim sigo, levanto-me da cama dia após dia, mesmo com dor. Pela janela observo o tempo a passar lá fora. Às vezes, um tempo diferente daqui de dentro. Coro-me as bochechas com um chá quente e logo desejo disposição para encarar o dia. São 7:15 da manhã e eu ainda não entendi o real sentido da vida. As pessoas não passam despercebidas, pela minha janela as vejo tão diferentes e tão próximas a mim, arrastam-se em direção aos seus destinos. Umas a passos rápidos, outras um por vez, sem pressa, à estas revelo meus pingos de esperança.

Minha janela o meu alento. Preciso dela. Dentro de mim há uma enorme bagunça, medos chegam sorrateiros e me consomem de modo lento e cruel. Preciso de tempo. Arrumar a minha bagunça, acolher minhas confusões, me acertar com os meus medos. Levanto bandeira branca. Preciso respirar. Não posso me esquecer de respirar! Digo a mim mesma para ter calma. O mundo, apesar de caminhar em desalinho, ainda não acabou. Nós ainda não acabamos. Deve haver tempo ainda.

Preciso de tempo. Precisamos de mais tempo.

Tempo para nos livrarmos dos véus e amarras que nos aprisionam. Para nos encontrarmos com quem realmente somos. Para nos libertarmos. Enfim, para nos amarmos por inteiro e assim, contagiarmos todas as pessoas com amor.

Será que as pessoas que passam pela minha janela sabem que não são livres?

Ainda não somos livres. Não somos.

São 7:45 da manhã e acho que ainda não entendi o real sentido da vida. Mas preciso deixar minha janela para dar continuidade ao meu dia. Ah, se ela soubesse o quanto me faz bem! Depois dela, minha esperança reacende. Da minha janela o tempo passa diferente. Daqui de dentro, há de sempre haver tempo.

Ana Caroline Ramos, Santa Maria (RS)