
Céu
Ó céu,
Como dizes que me retirei?
Nem tuas nuvens cantam em coro,
Mas em coro sempre gritei.
E agora grito para ti,
Como me prometeste promessas impossíveis?
Sabes que até tuas estrelas são distantes pedidos,
De um menino que ainda dorme.
E os pássaros que perpassam por ti me avisam:
Não se deixe levar pelas dádivas do passado.
Mas nem passado nem futuro,
Quero o presente de tua âncora.
E tu me disseste que teus borrões eram sonetos,
Que teus duetos pingavam no chão.
Ora, veja só,
Nem mesmo tens poderes sobre nada.
Teus súditos ainda são mancos,
Teus cantos cortejam nossos reis.
Tuas montanhas arranham teu corpo,
Por isso és fraco, imbecil.
Teu orgulho me espanta,
Teus ares me sufocam.
Perante a ti,
Sou tudo.
Tu perante a mim,
Não és nada.
Saiba que em teu peito,
Coração nenhum pulsa.
E de ti somente me cativa,
Tua singela lua divina.
Lá do alto ela me encanta,
No céu a dama que me espera.
E suas noites,
São meus votos.
Não há nada a temer,
Conter o grito ardente e calado.
Só há de ser eu,
E ela.
E ela,
É lua.
Álvaro Bueno Stein, Portão (RS)