Solidão

Já vivi muita solidão na vida. Desde pequena sentia falta de crianças da mesma idade para brincar. Não tenho irmãos, nem primos no país, muito menos vizinhos para conversar. Cresci em um ambiente repleto de carinho familiar, mas só consegui deixar a solidão de lado quando conquistei as primeiras amizades, no ambiente escolar. No primeiro edifício que morei, era a única criança, o que tornava a semana um evento importantíssimo, visto que iria para a escola e lá encontraria os amigos. Os finais de semana eram complicados, ainda que a família fizesse o possível para evitar que me sentisse sozinha.
Depois de alguns anos, mudei de bairro, e também de colégio. Fui então obrigada a conviver novamente com a tão conhecida solidão. Esta é uma espécie de tia, inconveniente, que aparece sem ser chamada e invade sua vida sem a menor noção. Felizmente, em pouco tempo, pude me adaptar naquela nova atmosfera. Após três anos, troquei de escola novamente, mas dessa vez sem tanta dor, pois estava maior, o lugar era menor e tudo foi mais fácil.
Estava feliz. Nem sabia mais qual era o formato da solidão. Porém, no ano seguinte ocorreu uma nova mudança, bem mais intensa do que as outras. Acordei em uma nova cidade, longe de todos os amados amigos, dos avós, de tudo. Era natal e comemorei somente com minha mãe e meu padrasto, diferente dos natais anteriores. Tudo era novo, fiquei um verão inteiro sozinha em casa, e quase afundei de tristeza.
Por fim entrei na última escola. Entretanto, tardei em me adaptar como nunca tinha ocorrido. Acordava e dormia abraçada na única “amiga”: a solidão. Porém, em uma questão de meses, deixei a vida solitária ao conhecer meus atuais amigos, que me fizeram entender o verdadeiro sentido da amizade. Vida tranquila, com pessoas que amo.
Porém a vida não pergunta, as coisas acontecem. De repente apareceu uma “gripezinha”, mais conhecida por COVID-19, que trouxe consigo o isolamento social. Tristeza é o que sinto ultimamente. Em tempos de quarentena a gente acaba percebendo que devia ter valorizado mais os pequenos momentos. Sempre fui uma pessoa carinhosa, acostumada a abraçar tudo e todos. Talvez seja isso do que mais sinto falta. Sem esquecer das noites tranquilas de risadas naturais com os amigos, e até mesmo das pequenas brigas. Saudades das implicâncias e situações de discórdia que acabavam em silêncios indesejados. Também os dias de choros atoa, que terminavam em brincadeiras que acalmavam o coração. Tudo transformou-se em lembranças de períodos bons da minha vida.
O mundo virtual tem sido essencial, mesmo que não substitua verdadeiramente o mundo real. Parece que por conta do isolamento social as pessoas passaram a se refugiar mais nas redes sociais. Será que todos se sentem solitários como eu? Possivelmente a maioria sente falta das suas amizades, paixões, familiares distantes. Estamos vivendo uma situação incomum, mas que pode nos levar a uma evolução.
Saudade é a palavra exata para descrever a atualidade. Esses dias fui surpreendida porque lágrimas correram de meus olhos ao receber uma mensagem de um dos meus amigos. Ele desabafou sobre a importância da amizade e provavelmente isso me levou a escrever essa crônica tristonha. Apesar de tantos conflitos internos, estou aprendendo a conviver comigo mesma. Ainda que solitária, não estou mais sozinha. A solidão deixou de ser a inimiga, para fazer parte de quem eu sou. Não sei, mas arrisco pensar que devo estar amadurecendo.


Carolina Slavutzky, Novo Hamburgo (RS)