Hj senti saudade de Maria

Maria vende robes e camisolas bordadas numa rua que liga a Joana Angélica a Av. Sete. É uma senhorinha tão bonitinha, paciente e gentil. As vezes passava por ela e escolhia alguma coisa para minhas tias ou minha mãe. Não éramos amigas, não nos víamos sempre, mas eu podia dizer a ela: guarde aí que na volta da reunião eu pego. Ela me reconhecia na volta e me ajudava a escolher.
Me vi com saudade dos homens que vendem quebra queixo. E fiquei me perguntando: por que só vejo homens vendendo esse doce? Será por causa do nome um tanto violento e brigão ou por que ele é duro de cortar?
Senti saudade dos que vendem frutas coloridas nos tabuleiros, amendoim, quinquilharias…
Das igrejas abertas e vazias, do sino que toca ou dos turistas bisbilhotando a cidade ( desses sinto menos saudade).
Senti saudade da rapidez com que ando no meio disso tudo querendo não me atrasar para o compromisso e ao mesmo tempo atraída por cores, preços, movimento, gentes.
Muitos parecem sentir falta do shopping (eu tb frequento, mas n toca o meu ️).
Sinto saudade da vida de verdade, não pasteurizada, de gente de verdade, de Maria.
Meu coração acordou hoje medindo lonjuras de tempo e espaço.
Meu coração acordou com saudade de Maria que, possivelmente, não se deu conta da minha existência ou me tem na lembrança, mas nem por isso diminui o meu desejo de que ela esteja bem e saudável.
Agora, enquanto escrevo, percebo que meu coração amanheceu com medo disso tudo ser só uma lembrança, só um dia com quebra queixos na bolsa e um momento bom com Maria.

Isabel Barbosa, Salvador (BA)