Vaidade de Olga

Faz 34 anos que li o livro Olga (Olga Benário Prestes), um relato do tempo dos campos de concentração. Livro denso, traumático e de luta pela sobrevivência. O que mais ficou gravado em minha memória e que em situações difíceis me dá suporte, é que num determinado momento da prisão dela, ela estimulava as companheiras a fazer atividades físicas, afirmando que diante do desespero uma das melhores qualidades a serem resgatadas é a Vaidade.

Sim, mas a vaidade é uma qualidade ou defeito? Digo que depende do momento e da intensidade do substantivo. Vaidade para simplesmente se destacar e demonstrar superioridade aos outros é um defeito de caráter. Contudo, a vaidade para si mesmo, para espantar os medos, afastar as inseguranças, criar ilusões, acalentar novos sonhos, pode ser uma grande aliada. Falo isso hoje diante da quarentena (Convid19), que pode virar “noventena” ou sabe-se lá o quê. A palavra é reinventar-se, fazer uma re-engenharia de sua rotina, usar a criatividade. Não me considero uma pessoa ligada à moda, maquiagem, joias, acessórios ou outros.

No entanto, quando os dias ficam resumidos a transitar entre quatro paredes e conviver somente com uma ou poucas pessoas, corre-se o risco de ir se descuidando de itens triviais de vaidade. Tirar o pijama todas as manhãs! Vai fazer diferença? Deixar a casa minimamente arrumada, arejada; cuidar da pequena floreira; pôr a mesa para as três principais refeições diárias. Pintar o cabelo? Quem vai ver se está bonito ou não? Digo que eu vou me ver no espelho, vai refletir um pouco da minha alma, da minha vontade, do meu viver. Fazer exercícios todos os dias…cansa, e como cansa, mas quem agradece é meu coração e meus neurônios.

Usar as redes sociais como aliadas nos contatos virtuais com familiares, amigos, ex-colegas, ler, fazer consultas médicas através da telemedicina (chic!), ver os noticiários (alguns bons outros nem tanto), ver mensagens de conforto, de esperança, receber incentivos, incentivar, fazer receitas novas, inventar receitas, rezar, tudo isso pode contribuir e preencher as horas de nossos dias. Imaginar quando e como poderemos voltar às ruas (eu adoro andar), como será esse reencontro com o espaço “fora”, com as pessoas, com as atividades que ficaram paradas? Contudo, o que de fato conta é como eu estou, como consigo conviver comigo e com meus sentimentos, revendo minha caminhada nesta aventura que é viver, conviver e sobreviver.

Gosto muito de um trecho da música do Fagner: “Canta coração que a minha alma necessita de ilusão”! Que a Vaidade e a ilusão estejam presentes neste tempo estranho da minha casa, da minha cidade, do meu país, da humanidade.

Lourdes Salette Cezari de Aquino, Joinville (SC)