
Sonhava com liberdade. Tinha acabado de decidir parar de trabalhar e viver o que quisesse, na hora que quisesse. Ah!… Que cilada! Essa história “do controlo tudo”.
Hoje, o mundo é a janela, o ir e vir é dado pela imaginação e limitado pela metragem do apartamento, está circunscrito ao tamanho do que penso com a duração do que faz sentido internamente. Os encontros com os amigos são virtuais, os abraços se deslocaram para um futuro no tempo do até um dia, até quem sabe…O lazer tem nome de live. A vida está mesmo diferente do que era, do que gostaria que fosse e do que sequer nunca imaginei.
Como “Carolina” do Chico Buarque, estou vendo o tempo passar na janela me perguntando o que estou deixando de ver? O que vejo? O que escuto? O que sinto? – Olhos assustados, palavras desvairadas, medo, corações angustiados, sofrimento, um óbvio escancaramento de desigualdades, isolamento. Ainda bem que existe o vislumbre da solidariedade, de alguma compaixão, de fugidia esperança e da possibilidade de trans-form-ação. É possível participar de ações diversas que alentam o corpo e a alma. Nesse vai vem de respostas me dou conta que me embalo numa música que vem do fundo da casa e que ecoa dentro de mim mesma: “Pai afasta de mim esse cale-se, Pai, afasta de mim esse cálice, de vinho tinto de sangue”
MCD, Rio de Janeiro (RJ)