CARTA MAIS QUE ESCANCARADA

Franca, 30 de maio de 2020.

Desprezível CORONAVÍRUS,

Confesso que não sinto prazer nenhum em lhe dirigir minha palavra, perdendo um tempo precioso, mas preciso lhe falar umas verdades entaladas na garganta. Confesso também que havia riscado do meu dicionário cotidiano palavras horripilantes como: câncer, viuvez, pânico, depressão, velórios, entre outras. Difícil mesmo é evitar tais incômodos. Estes, comparados aos estragos provocados por sua presença asquerosa, são insignificantes. Você chegou do nada, um intruso, imbecil, devastando tudo o que encontra pela frente. Como ignorar um verme da sua estirpe?

Fora, peçonha! Aqui você não é bem-vindo. Não perde por esperar, pois unidos te esmagaremos.

Reflito, no momento, sobre um fato importante: se nada acontece por acaso, de acordo com nossos estudos espiritualistas, deve haver um objetivo embutido em tudo isso, quem sabe acordar consciências adormecidas? Pensando bem, tudo permanece inalterado na natureza. Os animais estão ilesos, ainda bem, pois os inconsequentes somos nós, intitulados ‘humanos’. Como a maioria, creio que você veio despertar a solidariedade entre nós, numa época em que o egoísmo, a intolerância com os cognominados diferentes, o desrespeito, a violência, injustiças; enfim, as desigualdades gritantes entre as classes sociais.

Então, se já deixou o seu recado, ceifou tantas vidas, deixando rastros irreversíveis e ainda insiste em permanecer. Nada disso. Xô!!! Volte pro inferno, de onde jamais deveria ter saído e leve consigo os políticos irresponsáveis da mesma laia sua, que nosso planeta agradece. Xô! E tenho dito.

Não estou acostumada a falar palavrões, xingatórios, porém, o que não me falta é a vontade de fazê-lo!

Até nunca mais, seu filho da p…

Cirlene de Pádua, Franca (SP)