
Me peguei em devaneios dias desses. Depois que a vi, não sei se pela última vez, mas sei que foi uma das últimas. Em vibrantes tons de cores, ela caminhava sobre meu peito, a cada passo que se aproximava do meu rosto era como se eu fosse ser engolido por uma mulher que já tanto amei.
Verde, Amarelo e Vermelho. Vermelho sangue, sangue esse que fervia a cada momento que eu fitava seu rosto. E como era belo. Personificava de forma mais perfeita possível a ignorância projetada em sua face e no jeito de como me olhava. Obviamente pensei que ela ainda me odiara pelos recentes acontecimentos, ela certamente me odeia. Será que exagerei? Será que fez sentido? Provavelmente não, mas se tem uma coisa que eu sei é que homem é bicho burro e, homem apaixonado é duas vezes mais burro.
Acordei e não a vi. Era um sonho meu ou fui deixado novamente? Estou fodido pensei. Me olhei no espelho e não me reconheci, talvez porque as minhas olheiras já fizeram de mim um homem diferente do que eu costumava ser. Vejo nossas fotos juntos. Há duas pessoas nas fotografias e não reconheço nenhuma das duas. Eram nossas fotos mesmo? Talvez o amor tenha me mudado, na verdade, acho que foi a falta dele que me deixou assim. Irreconhecível.
Amar pra mim é um quadro em branco onde as possibilidades de se construir algo bonito são bem pequenas. É por isso, que poucos tem tal talento. Lembro-me de Van Gogh quando cortou sua orelha, eu estava lá e o via como louco. Hoje, eu o entendo, estou louco. Se o amor viesse em um frasco de perfume, com certeza haveria um aviso de contra indicação‘’ causa loucura e incêndios mentais’’.
O amor destrói na mesma proporção que constrói. Destrói. É uma aquarela, vários tons, várias vertentes que se transformam em um só elemento, em uma coisa só, o am(d)or . É difícil não pensar que já amei, por isso dedico essa crônica a ela e também a todos que amam e ainda vão amar.
Sérgio Pantolfi, São Paulo (SP).