O vazio que eu sinto não é o das ruas. Aliás, vazias elas nunca estiveram de verdade. Mesmo quando a doença chegou no nosso país, no nosso estado, e mesmo quando foi decretado que todos deveriam ficar em casa. O vai e vém continuou e continua como se fosse só uma questão de escolha: acreditar ou não.

O vazio que eu sinto é um vazio aqui dentro. Por não saber direito qual o dia da semana, por viver há quatro meses no ritmo acordar-trabalhar-comer-dormir que se repete. Vazio por não ter planos para o feriado ou para o final de semana, fossem eles os mais ousados ou os mais simples. O vazio que me consome chega de mansinho e sussurra no pé do ouvido sobre a falta de esperança nos outros e no mundo.

Esse vazio também sabe ser uma dor doída. Porque dói perceber que as pessoas continuam pensando que o mal maior só pode acontecer a si. Dói que tantos se esqueçam que a solidão é necessária, pois é um cuidado com um outro, um gesto de compaixão. O mínimo que deveríamos fazer por nós e por aqueles que amamos.


Amanda Carneiro, Pindamonhangaba (SP)