
Momento!
Estamos sentindo um estranhamento generalizado. Sequer sabemos seu começo ou seu fim. Os rumos da vida mudaram rotinas, práticas, crenças, hábitos, costumes e também sacodem nas bases os valores da humanidade.
As clássicas perguntas da psicanálise para ascender à vida adulta, integrar a busca da identidade e tornarmo-nos seres inteiros e felizes, capazes de criar e realizar desejos, sonhos e crer no impossível, parecem ser a pauta principal deste momento da civilização, o qual parou, diante de um inimigo invisível, poderoso e desolador.
Estamos todos diante das questões: Quem sou eu? Preciso me reinventar. Soa a voz que não ouço, mas que é capaz de me estremecer diante deste fenômeno incontestável, cruel e transformador. Nego-lhe o “status” de avassalador pela minha fé, pela minha confiança, pela minha resiliência e por acreditar na ciência. Reinvento – me, modifico-me como a borboleta apertada em seu casulo transformador.
Qual o meu destino? Outra pergunta. Esta inquietante, me coloca, não diante de uma resposta simples, aliás, nada é simples nestes momentos de mudanças profundas que levam, seja ao “fundo do tacho ” seja ao “fundo do poço”… Nesse primeiro, removendo até as mínimas partículas da matéria que se fazia inteira, e foi, pelo calor do fogo que acende as chamas da alma, colocada a aquecer, a ferver ou a modificar em um novo preparo, transformá-la quase que por inteira, não fosse a essência, a cor e o seu sabor original. Há ainda a partícula. Há ainda o DNA. Se for ao “fundo do poço”, e, num gesto impiedoso e truculento, for sorvendo as últimas gotas, ainda restarão algumas, que se transformarão em esperança, para dar vida a um novo projeto, traçar novos propósitos e dar forma a um re-viver.
Resta ainda uma luta. Sobreviver. E a derradeira pergunta qual vai ser? Em meio a tudo isto: qual é o meu dever? Este lhe garanto, não é, desta vez, um fazer solitário. Ao contrário, posso sim cumpri-lo a partir de mim, mas tem de ser um projeto comunitário, um dever solidário. Cuidar de mim para enfim, cuidar do outro, do outro e do outro… Como contas de um terço ou rosário, vamos, mais uma vez, fazendo-nos fortes em pleno caminho, enfrentar este “calvário”, que tem no seu símbolo, um inimigo ordinário muito temerário.
No entanto, no horizonte longínquo ainda, sem marcar dia ou horário, com certa precisão, mesmo que seja ainda, somente imaginação, cremos em um novo tempo, depois do distanciamento.
Veremos atrás da máscara outros rostos, outros seres, teremos novos víveres. E, neste toque de sono aparente, um sonho reluzente, lúcido quem sabe, nos mostra num repente — que vejo como vidente — um mundo comovente. Um novo mundo nascido de uma mudança na civilização. Esta que era do consumo, virou da comunicação, da mídia, da tecnologia com certa distância e também de aproximação. Um mundo, quem sabe, mais fraterno.
Ninguém sabe ainda ao certo, este mundo que longe e bem perto, está bem ao lado. Ao nosso lado, soldado. Como então será desenhado? Não se sabe ao certo. No entanto, poderá ser por muitos, simplesmente estranhado.
Ana Lucia Fiebrantz Pinto, Curitiba (PR)