Carlos, no entanto, ficara em frente do velho, sem chorar, perdido apenas no espanto daquele brusco fim! Imagens do avô, do avô vivo e forte, cachimbando ao canto do fogão, regando de manhã as roseiras, passavam-lhe na alma, em tropel, deixando-lha cada vez mais dorida e negra… E era então um desejo de findar também, encostar-se como ele àquela mesa de pedra, e sem outro esforço, nenhuma outra dor da vida, cair como ele na sempiterna paz.
(…)
De novo as lágrimas lhe correram, mas lentas, mansamente, sem desespero. Ega levou-o para o quarto, como uma criança. E assim o deixou a um canto do sofá, com o lenço sobre a face, num choro contínuo e quieto, que lhe ia lavando, aliviando o coração, de todas as angústias confusas e sem nome, que nesses dias derradeiros o traziam sufocado.

Eça de Queiróz (1845-1900), em “Os Maias”