
A necessidade de viver faz com que em alguns momentos nos sintamos fortes ou fracos demais. É como saber o que se deve fazer, mas o medo de enfrentar a si o paralisa. O olhar para dentro traz perturbações que nos colocam diante daquilo que não queremos enxergar, apesar de está bem ali diante de nossos olhos a realidade tal qual como ela é. Ficar com medo do futuro, da finitude da vida não é para provocar um estado de adoecimento, de anestesia, de perda de sentido de tudo, o futuro é incerto independente do nosso estado de espírito. Está bem, alegre, feliz não significa garantia da existência do amanhã, assim parece ser porque fomos educados a rejeitar as perdas, a ignorá-las.
Deixamos de viver o presente antecipando dores de um luto seja ele por qual motivo for, não lidamos bem com perdas, não sabemos perder. Prendemo-nos aos outros e os prendemos a nós como objetos, como algo que possuímos. Então, por que nos momentos difíceis a dor parece ser mais presente, controladora do nosso íntimo? Será que precisamos apenas assumir o lugar no EU onde colocamos aquilo que emocionalmente nos abala?
Queremos ser piloto da viagem sem destino, mas temos medo de chegar à estação que não desejamos. Queremos um amor sem dor, um riso sem choro, um abraço sem fim, um sim sem não, uma chegada sem partida, a completude do incompleto, a certeza do incerto, o tudo ter daquilo que não possui. Tudo bem sonhar, acreditar e esperar dias melhores, sabendo que cada momento tem seu marco estabelecido e nenhuma condição que nos encontramos nos permite fugir do sentido de viver e aceitar a finitude da vida sem deixar de viver por isso. O sentido de viver é viver mesmo sabendo que inexoravelmente tudo terá fim quando a morte chegar, no entanto, isso não deve sem um motivo para deixar de viver, pelo contrário, isso deve ser exatamente o que dará sentido ao viver.
È preciso aceitar um olhar de si livre do enxergar do outro, para que a perda ou ausência desse outro não te esvaziei de sentido possibilitando que os lugares doloridos sejam preenchidos pelo amor que fora experimentado. Tudo acaba o amor fica. É preciso ser o que se é de fato e não porque alguém espera que sejamos, não porque queremos fazer para alguém, isso leva a desconstrução de si na ausência do outro pela falta daquele olhar que nos valoriza. Faça o exercício de pensar que vivemos antecipando a morte quando olhamos o relógio repetidas vezes, contamos os dias no calendário, estabelecemos prazos para tudo, inevitavelmente morremos um pouco todo dia. O segredo é não desperdiçar o presente, não lamentar o passado e não antecipar o futuro.
Permitir se extinguir para se encontrar, mesmo diante do caos que seu coração possa lhe apresentar, deixar se guiar pela possibilidade de alcançar uma estrela cintilante para que assim posso ser dono ser aprisionar, senhor sem castigar, controlar sem reprimir. A próxima estação é desconhecida, porém depois que o trem parte ele tem um destino e não sabemos se chegará lá, mas ousamos embarcar nele. Dentro de si está tudo que pretende alcançar. Não se distancie daquilo que só você pode ver e só você pode ter: seu próprio EU. Cuide dele! É a única coisa que te pertence.
Lidiane Bernardo Gomes, Exu (PE)