
cansada. tomando sol, de casaco de neve, na sala, fiquei olhando pra meia cinza e pro tapete sujo. combinam. nada faz sentido. estou cansada do entre. todos estamos. não consigo trabalhar. está tudo bem, eu sei. nada faz o mínimo sentido. os acordos que movem como títere a máquina do mundo estão todos visíveis. a mão, a morte, a vida. o vazio, veja, não pode ser levado a passear. me sinto mais incomunicável que nunca. palavras são acordos pra coisas que a gente sente, também. um enorme vazio, uma enorme praia deserta, um quarto branco, o clichê do saco de supermercado a esmo na praça da sé. não há imanência.
Marília Bonas, São Paulo