São 20h30 de uma noite – como todas as noites – que já não corresponde mais a um dia da semana ou do mês. Enquanto fumo um cigarro admirando a lua, que aparece dentre os telhados do bairro, o telejornal notícia mais um grande número de mortes – como todas as noites, com todas as mortes. Só consigo pensar no perigo que vive lá fora, nas vidas interrompidas e em como ainda é necessário manter o distanciamento social. Após uma pausa silenciosa nos pensamentos acelerados, dou-me conta dos projetos pessoais interrompidos, ou melhor, adiados. Mas como é difícil separar os sentimentos durante o isolamento! Tudo se mistura – o eu, o outro -, uma fagulha traz tudo à tona, e o esforço que a elaboração disso exige da psiquê é colossal. Tantos lutos para serem vividos…  

Otávio Balaguer, Santo André (SP)