
São José dos Campos, 19 de julho de 2020
São três da tarde e começo a escrever essas palavras sem ao menos saber onde quero chegar.
Estamos no ano de 2020, enfrentando uma pandemia. No Brasil, enfrentamos um cenário político polarizador.
Hoje perdi um tio. Em meio a tantas outras coisas acontecendo, a morte, que por si só já é trágica, quando acontece em um momento onde não podemos aglomerar, deixa a vida ainda isolada.
Como é se despedir de alguém sem um abraço para confortar?
Como é ver um primo chorar e não poder confortar?
Meu tio morreu cedo. Se ele tivesse 90 anos de idade ainda seria cedo. Cedo porque a gente sempre deixa tudo para depois. Cedo porque não nos reunimos para confraternizar mais vezes. Cedo porque todas as palavras que gostaria de dizer a ele, não foram ditas.
A quarentena e o isolamento social trouxeram novos cenários para uma velha realidade: o tempo passa e não há forma de recuperar.
O sepultamento será amanhã. Exatamente três meses atrás outro tio faleceu. Penso em meu pai. Dois irmãos em 3 meses.
Difícil, não?
Não sei o que pensar. Mas sinto um vazio.
Memórias infantis voltam a rondar meus pensamentos. Das tardes no bar onde meu tio era o dono. Lavar copos-americano atrás do balcão, atender um ou outro cliente. Comer um enroladinho de salsicha.
Ouço novamente a voz rouca de meu tio. Tem coisas que vão ficar só na memória.
Priscila Souza, São José dos Campos (SP)
