SER FOLHA

Em tempos de isolamento, aprecio pela janela o doce bailado da folha amarelada pelo tempo. O pensamento voa para o passado…essa folha já foi verde, faceira, uma entre milhares, tão igual às outras, perdida na multidão dos parecidos. Simplesmente folha; nem galho, nem tronco, só folha. Pouca importância, sem valor?

 Imagino sua incansável tarefa de prover a vida, absorvendo luz, alimentando sua mãe árvore transformando sol em sombra para o caminheiro cansado. Recebe a chuva com alegria, água que limpa e nutre sua beleza que exibe como se fosse fio garboso de vasta cabeleira.

Tão frágil, deixa-se levar pelo vento. É preciso dar lugar à nova folha. Não se importa, sabe que é preciso partir para ficar. O tempo, tão atemporal, se encarregará de garantir o eterno ciclo da árvore da vida. 

Rosélia Genovesi, Curitiba (PR)