Agosto

Nunca vem a gosto de Deus, me perdoem. Parece sim uma rebelião no céu, no inferno, um transtorno por onde se passa.

É ventania abusada  que tira tudo do lugar, folhas em desalinho arfam pela área recém cuidada e eu, irritada, pela desarrumação. Vento valentão insufla o peito, por todos os cantos assopra poeira desordeira em marcha inflada.

Situação babélica tal qual o desgoverno que segue desordenado, desconexo, e o povo, confuso,  mais uma vez lava as mãos. Sabe-se lá qual verme, qual vírus  desloca-se pelo ar!

Depois de 120 dias de isolamento social, de vermelho, de laranja, de amarelo, perdeu-se a noção da pandemia no país intercontinental, mais parece trapalhada mesmo diante dos fatos que anunciam mais de noventa mil pessoas dizimadas no Brasil.

Temperatura sobe. É o prenúncio no ninho da futura eclosão:

no inverno de agosto

rolinha fogo apagou

no pé de romã

O que antes era impenetrável, agora se torna quebrável. Dois filhotes. O casal de rolinhas na vigilância constante ante qualquer alarido de outras aves espiãs, pois a  vida bafeja e bagunça as certezas, mas os pais emplumados não arredam pé, inflam o peito em alerta. Cuidam dos seus.  

Incrível como a natureza, mesmo selvagem, zela pela coisa certa. E os humanos, bem, continuam enchendo o saco, ainda se catassem a sujeira que fazem ou aquelas causadas pelos redemoinhos, mas não, preferem  encher a paciência com trocadilhos a gosto de Deus.

Rozana Gastaldi Cominal, Hortolândia (SP)