Da janela lateral

Vez ou outra, fico na janela com a Helena. Não quero que ela esqueça que há sol, som, rua e gentes para além da gente. Durante esse nosso recreio, procuramos escassos passarinhos. Em dias de sorte, encontramos cachorros passeadeiros e gatos preguiçosos se espremendo contra as telas.

Hoje, no prédio em frente ao nosso, havia outra mãe e outro bebê. Apontei para eles e disse: olha, Helena, ali também tem um bebê, dê um tchau. Ela, que há muito anda com o seu tchau reprimido, ergueu a mãozinha e acenou. Do outro lado, a mãe forjou a resposta do filho, ainda pequeno para cumprimentar por si só.

Ficamos ali, um tempo, em silêncio, eu e a outra mãe. Solidárias uma à outra. Talvez partilhando dos mesmos medos, angústias, cansaços. Depois, cada qual seguiu seu destino de muitas coisas a fazer e eu sonho com um encontro no parquinho da rua de trás. Cabelos ao vento, crias polvilhadas com areia e o alívio dos sobreviventes no peito.

Jamile Guerra, Brasília (DF)