Contatos Imediatos

No terceiro andar, todos os dias à uma da tarde, o pai treina parada de cabeça com os filhos. Uma escadinha, 7, 10 e 14 anos, talvez. O mais velho já domina a prática e tira onda com os mais novos.

No sexto andar, minha companhia de panelaço entrou em fadiga. Não mais bate panela, não lê mais para os filhos. Prostrada, perde o olhar no horizonte mais límpido.

No sétimo andar, uma mãe esgotada tranca o casal de filhos na varanda, confinados a uma mini piscina plástica. Em minutos começam a se estapear, a menina emburra, se enrola na toalha. O menino reina sozinho nos rasos mergulhos.

O bonitão do quinto andar fuma cada vez mais. Tem tantas plantas na varanda que era melhor ter se mudado para o mato de uma vez. Dia sim, dia não, faz vídeo-chamadas. Daqui, a depender do vento, escuta-se quase tudo. Problemas com o fornecedor, a carga, a entrega. A matéria-prima.

Invejo o sol a incidir nas janelas deles. Magoam-me as paredes que tudo escutam, porém mudas, recusam-me um eco quando grito o teu nome.

São 10 da manhã do quadragésimo quinto dia. Na torre de cá uma mulher tenta se jogar do décimo quarto, mas infelizmente (para ela) alguém a salva. Bombeiros de rapel. Ao menos alguém se diverte.

No décimo quinto andar, o minuto tem dez horas.

Claudia Freire, São Paulo (SP)