
19 VID CO
Vivia em uma casa cheia de sons.
Ao acordar a galinha cacarejava bem em frente à minha janela.
Me avisando que estava na hora de acordar.
Os rouxinóis e os sabiás gorjeavam durante todo o dia.
Ainda tinha o latido do cão, o miar do gato, o mugir do boi, o relinchar do cavalo e o zumbir dos insetos.
Só à noite eu ouvia o coaxar do sapo e o crocitar da coruja.
Ainda guardo em meu coração o som do vento, da chuva, do mar e da cachoeira.
Depois me mudei para uma grande cidade.
Eram outros sons.
O barulho das pessoas, das motos, das sirenes, dos carros, de obras, dos aviões…
Fui me acostumando.
Mas hoje não ouço mais nada!
Onde estão as pessoas?
As ruas estão desertas!
Muitos pássaros pousavam nos fios de eletricidade.
Onde foram os pássaros?
Tudo silenciou!
Nunca gostei do silêncio.
É assustador.
Sou companheira da solidão e do medo.
Me abraço e me consolo.
A vida e a morte estão em jogo.
Marisa de Jesus, São Paulo (SP)
