O BICHINHO FEIO

Era uma vez um bichinho feio que insistia em aterrorizar as crianças.
Ele deixava as pessoas muito doentes e, às vezes, até matava.
Estávamos isolados em casa. Eu, papai, mamãe e minhas bonecas.
Não podíamos visitar os parentes e amigos.
A minha saudade tinha nome, cheiro e forma.
Ficava pensando quando eu poderia amassar as pessoas de tanto abraçar.
Feito bolo!
Eu passava o dia brincando e sonhando com o AMANHÃ.
Não era um bichinho feio que iria acabar com o meu ânimo.
Eu traçava um coração no ar e colocava o mundo.
Agora, eu estava vivendo num cantinho do mundo!
A família criou uma LIVE para nos comunicarmos.
Era estranho ver todos num quadradinho.
Mas, acabei me acostumando.
Eu via da janela as pessoas sorrindo atrás das máscaras faciais.
Pensava: “Nem tudo está perdido”.
Via também o sol, a lua, as estrelas e um céu avermelhado.
Lindo de se ver!
Mamãe contava várias histórias.
Uma delas era:
“Um dia criaram a velha calça jeans e a camiseta branca para igualar as pessoas.
Hoje, a máscara, um simples pedaço de pano, também nos iguala”.
O mundo melhorou muito sem as pessoas.
A NATUREZA reviveu!
Será que as pessoas precisavam ficar doentes para o mundo ser diferente?
Uma coisa eu sei. Foi a vovó quem me disse.
Tudo que você ama um dia irá perder. Mas, o amor voltará de outra forma.
O MUNDO ESTAVA FERIDO. E EU TAMBÉM.

Marisa de Jesus, São Paulo (SP)