
Para mim o exercício da escrita em Português é uma forma de prática, de alívio mas também uma forma de carinho. Queria compartilhar aqui minhas impressões como estrangeira que ama este país e sua língua.
Sinto que este momento que estamos atravessando requer de nós muita resiliência e tenho tentado enxergar o lado luminoso sempre que possível. Com certeza algumas reflexões vieram para me acalmar e acolher.
Antes de pandemia muitas vezes senti que esta língua aberta, cheia de vogais e fricções, de nasalidade, enfim, de sonoridades tão gostosas tinham como fim ser usadas só para expressar sensações alegres e tranquilas. Porém neste período descobri que também consegui sentir me acolhida por ela. E isto é uma sensação nova. A língua se apresentou como um espaço onde consegui deixar fluir minhas emoções e até frustrações. E isso faz com que o vínculo entre nós amadureça e se torne ainda mais forte.
Achei nas vogais fricativas, nas nasalidades e em certas palavras um acalanto igual ou maior do que nas respectivas equivalentes na minha língua materna.
Meu lugar é de respeito, de curiosidade e de paixão. É preciso abandonar o conforto do domínio natural da língua nativa e colocar-se em situação de aprendizado constante. E é só assim que é possível evoluir. Me deixo encantar pelas suas palavras-pérolas, suas nuances e possibilidades que abrem as portas de uma cultura riquíssima sobre a qual quero aprender mais e mais.
Aqui minhas palavras preferidas, eu as chamo de meus “diamantes”: Borogodó, cafuné, chamego, dengo, saudade. Espero que todos possam se sentir abraçados por elas.
Gabriela Gutierrez, São Paulo (SP)