DIÁRIO DE UMA PROFESSORA DE CRECHE EM ISOLAMENTO 

Não,

Foi o que disse para o despertador do celular às 5:10h:

não queria acordar, então coloquei na soneca, e foi assim até as 5:30h.

Então levantei, tomei meu café e pensei em tudo o que faria hoje, segunda-feira, 

isolada, com dois filhos menores de 9 anos e 22 alunos de creche para aprender com eles,  uma casa para cuidar, e muitas coisas para estudar

Acha que estava com disposição para esse grande desafio do dia? 

Não.

Então fui para meu quarto, ler a Bíblia e meditar, que paz senti em meu coração e daí me veio a disposição para começar o dia. 

Abri a plataforma ansiosa para saber se alguma família interagiu com as propostas da semana passada e… 

Não,

ninguém interagiu, me veio a frustração e acha que estava animada para postar as propostas dessa semana?

Não,

mas deixei de postar?

Não.

Porque lembrei o quanto eu aprendo ao pesquisar, planejar e pensar em cada proposta, aprendo como meus alunos pensam, como Carol (minha parceira) pensa e me ensina e aprendo comigo mesma, seja em relação a tecnologia ou a prática docente, seja errando, porque fazendo de novo eu aprendo. Então me veio a disposição e postei as propostas com alegria e esperança, pq se não deu certo no ensino remoto, em breve, em sala de aula, vai dar certo sim.

Fiz leituras e assisti lives e, no meu diário de bordo, fiz reflexões,

então parei um pouco.

Não,

na verdade não parei um pouco, fui fazer outra coisa, cuidar da casa e das crianças,

banho, almoço, limpeza e organização da casa, lição para cada criança enviadas por suas professoras, aula de ballet de Maria Fernanda, aula de instrumento do Breno, meu Deus, quanta coisa! isso não é estressante?

Não. 

Em alguns dias foi, hoje não, pois ao dar banho na Maria Fernanda, cantamos e rimos no banheiro, eu fiz caretas só pra ela dar gargalhadas, e ela fez gracinhas só para me fazer rir,

eu pude apreciar o som do Breno tocando uma música que amo na flauta, e ele tocou tão afinado e percebi o quanto ele está evoluindo no ritmo e trocas de notas, e isso me deixou muito orgulhosa. 

Casa limpa e organizada e agora um desafio, tentar concluir o “Lago dos Cisnes” no violino, que difícil, notas e conceitos novos, meu arco é novo e não consigo ainda me adaptar, e partitura complexa… Não dá vontade de desistir?

Não.

Sei que uma hora eu consigo, afinal nada é fácil

e depois uma série de atividades, ir no mercado, pagar contas, põe máscara, tira máscara, não esquece o álcool em gel, baixar áudios, pesquisar, escrever, mandar mensagens, conversar com amigos, subir áudios, planejar o dia seguinte… Agora sim, não é estressante?

Não.

Hoje não. Meditei de novo e senti paz de novo e então veio a disposição,

depois terminei tudo, fui tomar banho e então veio muitas e muitas ideias para sala de aula,

sai do banho anotei tudo, quantas ideias ótimas que só podem nascer na hora do banho.

À noite, preparar janta, lavar louça, estender roupas,

cantamos em família, lemos e compartilhamos o que aprendemos, depois fui para o quarto, joguei um pouco no celular e adormeci, pensando no quanto de reportagens li sobre pandemia e educação.

Folha de São Paulo, Estadão, UOL, desanimei com tantas notícias ruins.

Fala a verdade, diante de tantos “nãos”, em uma segunda-feira, não dá vontade de desistir?

Adivinha…

Não. 

Hoje não.

Janaína Gomes Viana, São Paulo (SP)