Não enxergo mais a árvore aqui da frente.

Hoje eu olhei para fora e vi a vida sendo
Vi o balançar de cada galho
Senti o cheiro e o gosto que só a tarde tem.

Queria deitar embaixo dela e ver o contraste entre as nuvens e as suas folhas
Queria sentir o calor do sol do meio-dia sob o meu corpo
E o vento batendo livremente enquanto eu corria contra o tempo atravessando a cidade
Queria ver com olhos livres: sem prédios, grades e sem medo.

Mas logo vem a noite
E volto a me lembrar que não enxergo a árvore aqui da frente
Minha visão, tão viciada neste mundo criado aqui dentro,
não me permite mais ver com clareza.

Queria sentir sono
Queria não sentir que o tempo corre como um correnteza contra mim
Queria não sentir
Queria conseguir só seguir sem ser abalada pela angústia que tudo isso me causa
Queria que perguntar como alguém está ainda fizesse algum sentido
Já não o faz
E, se me perguntam como estou,
apenas respondo:
Existo.

Jessica de Queiroz, São Paulo (SP).