Signo de virgem 

A noite se guarda toda para o infinito silêncio. Acho que está chegando a hora do sossego.

No dia em que você nasceu, o mundo já era mundo. Pessoas caminhavam nas ruas, casais rompiam longos relacionamentos. Um senhor morreu no apartamento ao lado. Algum bebê, em algum lugar, disse mamãe pela primeira vez. Eu já tinha um ano e aprendia a caminhar.

Uma vez você me mostrou uma poeta portuguesa. Do décimo sétimo andar, na sacada do seu apartamento eu chorei ao escutar fevereiro. Tempos depois, escutei um poema da mesma poeta com nome de dia, mas que só me vinha anoite antes de dormir. É porque ela descreve um rapaz que é você. Te juro que é você, sem tirar nem por.

Desde então, me apaixonei pela autora e em todo poema que ela escreve parece que há uma frase que foi feita para você. Pensei que eu fosse a pessoa que mais te conhecia no mundo, mas fui descobrir aos 25 que existe outra mulher, do outro lado do oceano capaz de te descrever muito melhor do que eu. Isso me fez perceber que por mais que andamos crescendo juntos, d i s t r a i d a m e n t e, ainda existirão muitas mulheres capazes de te descrever melhor do que eu. Mas nenhuma capaz de te amar mais do eu te amei. 

No fundo, as palavras são apenas desenhos, rabiscos, linhas e círculos.

Assim, entendi quando parei de tentar entender.

Como já dizia essa mesma poeta, toda gente sabe quem tu és para mim.

Lembrei do levantar dos calcanhares, da forma como o verão bate nas janelas. E quando percebi que o quadragismo dos meus versos se transformava em um círculo infinito, você abriu a porta para interromper o silêncio.

Mariana Castanho, São Paulo (SP)