Duas muda de roupa e tá bom

Por mais que o título engane, isso não é um texto sobre moda. Até porque se eu estivesse aqui pra falar de moda só sairia abobrinha. E não é nada parecido com aquele papo de ‘‘cada um tem seu estilo’’ ou ‘‘moda é relativo’’, é que simplesmente eu não consigo falar, não conheço a indústria, as tendências, como são seus ciclos, eu basicamente só ouço falar.
E não é que a moda não me instigue, ela me chama a atenção e eu juro que eu queria entender mais, sério. É que isso que eu to falando aqui é algo mais pessoal e que tem umas histórias engraçadas. O valor notícia é zero, mas o desabafo é dez. Vocês vão entender, tenham calma.

É engraçado como certas coisas entram na cabeça e não saem nem com a porra, memórias que não fazem o menor sentido voltam com tudo pra te dar aquela derrubada numa sexta feira a tarde. É realmente muito estranho.

Entre 2008 e 2013 foi tudo uma loucura. Foram uns anos muito bons porém muito estranhos também e hoje em dia tenho esses anos como base do que eu aprendo e vivencio hoje.

Nesse intervalo de seis anos eu fiz muitos amigos, muitos mesmo e posso dizer que levo eles no meu coração até hoje. Mas tinha algumas coisas que me puxavam pelo pé enquanto eu dormia a noite.

Naquela época, eu era bem gordinho, muito acima do peso para meu tamanho e idade. Meus amigos me zoavam é claro, mas eu não ligava muito, nunca foi algo que me incomodava -eles me zuarem, porém, quando eu olhava pra mim mesmo era foda.

A farda do meu colégio era rosa e logo, muito aparente. Eu não gostava de usar pois meu peito e barriga apareciam bastante pela blusa e eu achava aquilo horrível pra caralho. Tanto que, pra ir pras aulas, eu usava uma, às vezes duas blusas por debaixo do uniforme, tudo isso pra não aparecer nada do meu corpo. O de educação física era ainda pior, regata branca, já viu né?

Agora pensa, eu, na Bahia, vestindo três blusas naquele calor nada infernal de 30 graus pra cima e com um cabelão. Nem ar condicionado dava jeito, eu suava bastante e eu odiava aquilo tudo. Eu me sentia mal por ter que me sujeitar a fazer algo tão ridículo a fim de esconder algo que eu não deveria ter vergonha.

Eu fiz isso até o final de 2012 que foi quando eu dei uma espichada e cresci bastante. Acabei emagrecendo mas o peito ficou, um resquício da barriga também. Mas no meu terceiro ano, eu finalmente acabei só usando o uniforme rosa do colégio. Sem nada por debaixo, foi uma sensação bem boa, o peito ainda estava lá, a barriga também, mas eu já não ligava mais.
E é por isso que eu falo que esse texto não é sobre moda, mas sim o como sempre somos pressionados -por nós mesmos ou por outros- a seguir determinados padrões pra gente tentar se encaixar. Eu achei que tava fazendo o certo na época, hoje eu vejo o quão errado eu estava. Mas não me julgo também, eu era uma criança praticamente.

Já olhando pra hoje, eu vejo o quão importante foi esse processo na minha vida. E eu gostar do que eu visto me deixa confortável. Nem sempre é o mais bonito, o mais bacana, mas é o que me faz bem. Também não é vestir uma bermuda listrada com uma camisa listrada (obrigado por essa, Bruna) calma lá! Tudo tem limites. Mas eu sinto como estar nas nuvens, eu vestido do jeito que eu quero, como eu quero. E eu posso ter certeza que eu pensaria assim independentemente de como estivesse hoje, principalmente no aspecto físico.

Mas o que eu quero dizer é que, hoje, eu consigo rir de mim sem sentir pena e isso é bem daora. Eu consigo usar a roupa que eu quiser e ficar bem confortável com isso. Pra ser bem sincero, eu tenho muita dificuldade de lidar com o vestir ‘’bem’’ e me sinto bem pressionado quando me obrigam a vestir algo que eu não quero. Eu não ligo pro que os outros vão falar, eu só quero me sentir bem estando daquele jeito. O meu cabelo a mesma coisa, ou o resto dele né, aproveitar enquanto ainda tenho.

Inclusive, é bem provável que você me veja por aí vestindo regata, bermuda e chinelo. Não tem nada mais confortável do que isso, sério. Por mim, eu ia pra todo lugar assim, eu só quero ficar suave. Mas até que eu to bem suave hoje. No meu guarda roupa a moda praia/verão faz sucesso, além de camiseta de banda e time (minhas preferidas pra ser sincero).

Eu sei que isso não é nada demais, mas é legal escrever sobre estar bem pra variar. Escrever é bem massa, e para um jornalista é obviamente essencial. To tentando voltar aos poucos a escrever aqui, coisas que não sejam para a faculdade ou para o trabalho mas isso não significa que não tenham um valor.

Nos vemos de chinelão por aí.

Sérgio Pantolfi, São Paulo (SP)