Raiva

Senti vontade de lhe castigar
Fatiar sua língua ferina
Fazer um guizado e lhe
Enfiar guela abaixo
Junto com
seu ódio primitivo,
Corrosivo.
Senti vontade de arrancar-lhe
O coração e espremê-lo com as mãos
Mas tu tão transtornado e vivo
Sentindo agonia
Dor, contrição
Senti a gana assassina
De lhe roubar
A alegria, o ar, a vida
Muito perversamente
E lhe causar
Uma ferida que mesmo
Pós vida sangrasse tormentos
Tal qual semeastes
Tão displicentemente
Sem lamentar
A devastação
Das tuas sadicas manias
Senti essa gana
De torcer-lhe o pescoço
Os membros, as tripas
E pisar sobre tua carcaça
Rindo do fim
Da tua tirania
Da tua existência
Estúpida, fria…
E chorei largamente
Por ter-me roubado
Uma fração da minha humanidade
Que ante a tanta barbárie
Esqueceu a compaixão e a piedade
Numa cova fina.

Stela Sartori, São Paulo (SP)