
Mundo exterior
E se todos pudessem ver além das janelas? Esse era o seu desejo, estava ali todos os dias espiando da janela o movimento da rua, do seu mundo. Carros entrando e saindo das garagens, crianças e jovens indo e vindo das escolas com suas mochilas nas costas, empregados levando os cachorros na rua para fazer as suas necessidades.
Dias de sol ou nublados, como os seus olhos. Tudo observava através das grades da janela. Uma vida resumida a aquilo. Repetia o que via em voz alta para não as esquece, como se dialogasse com alguém: a vizinha estava usando um vestido preto, o vizinho chegou mais cedo do trabalho, as crianças estão com um penteado novo, futilidades da vida.
Às vezes se ocupava com algumas fotos em preto e branco do tempo da infância, mas queria mesmo era alguém para conversar. Saia ia até o portão, logo voltava, já não tinha tanta firmeza ao caminhar.
– Filha! Compra alguns pães para mim.
Pedia ela ao primeiro que passava a rua, entendendo o braço com R$2,00, na mão.
A campainha toca, vou atender, mas antes, tento reconhecer quem é olhando pela janela, não identifico. Abro a porta.
– Oi! Vim te trazer o convite da Missa de Sétimo dia da minha mãe. Ela me disse que você comprou pão para ela.
Concluo com ar de surpresa. Abrir a porta é melhor que olhar pela janela.
Eliege Reis, São Paulo (SP)