
Em tempos de pandemia, o livro “Ideias para adiar o fim do mundo” é uma excelente obra para entendermos o mundo em que estamos vivendo.
O que está a nossa volta? Qual o sentido de humanidade? O que é essa modernidade que esquece da mãe natureza e passa a valorizar mais o consumo?
Em 2019 Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista e escritor brasileiro escreveu “Ideias para adiar o fim do mundo” de acordo com o resultado de duas conferências e uma entrevista, realizadas em Portugal entre 2017 e 2019. Ailton é da região do médio Rio Doce, em Minas Gerais, onde vive no território do povo Krenak.
Anteriormente, em 1987, na Assembleia Constituinte, fez um inesquecível discurso quando pintou o rosto com a tinta preta do jenipapo para protestar contra o retrocesso na luta pelos direitos indígenas
Em 85 páginas, Ailton Krenak traz ao leitor e leitora importantes reflexões nos capítulos “Ideias para adiar o fim do mundo”, “Do sonho e da terra” e “ A humanidade que pensamos ser”.
Em cada parágrafo, um ensinamento. Entre alguns, a importância de começarmos a olhar para natureza e enxergá-la como parte essencial para a existência humana e as rotinas consumistas, onde passamos a ter e não ser. Esquecendo de nossas origens, raízes, identidades.
Destaco dois trechos do livro como exemplos desse mundo:
Enquanto isso, a humanidade vai sendo descolada de uma maneira tão absoluta desse organismo que é a terra. Os únicos núcleos que ainda consideram que precisam ficar agarrados nessa terra são aqueles que ficaram meio esquecidos pelas bordas do planeta, nas margens dos rios, nas beiras dos oceanos, na África, na Ásia ou na América Latina. São caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes, – a sub-humanidade.
Como justificar que somos uma humanidade se mais de 70% estão totalmente alienados do mínimo exercício de ser? A modernização jogou essa gente do campo e da floresta para viver em favelas e em periferias, para virar mão de obra em centros urbanos. Essas pessoas foram arrancadas de seus coletivos, de seus lugares de origem, e jogadas nesse liquidificador chamado humanidade.
Vivemos em um momento que podemos estar levando bronca da Mãe Terra.
É tempo de revermos ações e conceitos sobre atitudes e consumos.
É tempo de entendermos o quanto estamos sendo alienados.
Minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim, Ailton Krenak.
Mônica Saraiva, São Paulo (SP)