Ensaio sobre a cegueira: “A Responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam.” José Saramago

Escrevo pra dizer que sonhar é preciso. Luto por cada sonho que tenho para sobreviver ao mar de notícias terríveis, a falta de perspectivas. Não sabia que futuro era um aqui com outro dia em aberto. Agora o futuro é cada palavra que coloco no papel, cada doce que compartilho com minha mãe e meu filho, cada planta que cresce com destino incerto. Por isso deixei a Peste de Camus de lado, mas não posso abandonar o assunto que nos toma, que me toma. Então busco outras formas de encontrar um pouco de respiro entre o total desgoverno do país diante de uma calamidade, e a minha presença no mundo, afinal estamos todos aqui e, apesar de tanta cegueira,  é perturbador enxergar. Por isso e para continuar a sonhar leio o Ensaio sobre a Cegueira de Saramago. Primeiro são os cegos, um contágio rápido que passa da crônica dos dias para um manicômio onde todos que cegaram ficam  isolados por tempo indeterminado.

(Abro parênteses aqui para um sonho que anda se repetindo, eu em situações de rua me dou conta que ninguém usa máscara, no último sonho eu percebi  que também tinha esquecido de colocar e ficava desesperada por ir ficando cega, ao mesmo tempo vem a recompensa,  sonho que tenho 3 homens, sendo que um esta nú, adorei essa parte do sonho, kkkk.)

Volto pro Ensaio sobre a Cegueira. Uma única personagem no livro enxerga, a mulher do médico. Ela se finge de cega para ficar com o marido. É uma personagem chave. Agora convivendo com os personagens e com a pandemia no Brasil vejo que Saramago colocou nessa mulher do médico a capacidade de ver em meio  à cegueira e no meio da cegueira. Ela é um elemento crítico entre os condenados no manicômio e os governantes. “ A responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”. É isso. Basta ver, sonhar e enxergar. 

Paula Janovitch, São Paulo (SP)