O VÍRUS

Eu vi o vírus

Devastador e invisível

Vi o vírus limpar o suor

E curar a ferida da cara sofrida

O vírus que trouxe a doença

E que sem pedir licença,

Deixou uma sentença

De vida e de morte

Mexeu com toda a sorte

De norte a sul

Fez o fraco ficar forte

E o céu ficar azul

Fez o incrédulo pedir a Deus paciência

Dobrando o joelho em oração

Se arrependendo e pedindo perdão

E a ciência, ora menosprezada

Nunca foi tão respeitada

Anseio de cura e vigor

Estudos, remédios, vacinas

Álcool gel e cloroquina

No uso da medicina

Enfermeiros, cientistas, médicos e policiais

Trabalhadores de várias funções em hospitais

Funcionários na lida e no labor

Em proteção aos que tiveram que se isolar

Trabalharam com ardor

Em diversos serviços essenciais

Arriscando suas vidas

Com apoios fundamentais

Acontecimentos de grande valor

O vírus levou o orgulho

Mas também trouxe a angústia e a aflição

De quem em meio a aglomeração

Se sentiu sozinho

E de quem sozinho frente a tela da solidão,

Reencontrou-se com seus entes queridos,

Antes esquecidos,

Doentes e sãos.

O vírus causou reviravolta

Desemprego e carestia,

Colapso, privação e apatia

Mas trouxe de volta

O desejo de afetos e carinhos

Diminuindo a distância entre pais e filhos

Pôs o trem nos trilhos

Renovou valores e brilhos

Surgiram novos comportamentos

Sensações e sentimentos

Novas atitudes e momentos

Que serão lembrados para sempre

Da tela da janela, shows de solidariedade e apoio

Lições, trabalhos, provas e diversas situações

Para o estudante, o viajante e o trabalhador

Para adultos, idosos, jovens e crianças

Que em meio a esperança

Utilizaram a tela do celular,

Do computador e do televisor

Mas nem tudo mudou

A ganância ficou

O egoísmo continuou

A violência aumentou

Para a mulher e a criança

No entanto, aumentou também a esperança

Que bom!

O amor e o respeito

Entre aqueles com boa alma

Com serenidade, paz e calma

E que sem limites para a solidariedade, ao próximo, quis ajudar

Que para proteger a si e aos outros, do vírus

Puseram máscaras no rosto

Essa mesma que o tosco não quis adotar

Porém muitas mãos limpas se sujaram

De tal modo

Que nem o álcool ou o sabão

Puderam limpar

Muitas mãos impuras

E cabeças duras

Cobriram com máscaras o rosto

Causando a muitos, desgosto

E o vírus veio, de novo

Tirou a vida

Trouxe a pandemia da doença

Em meio a pandemia que já existia.

A pandemia da corrupção e da má gestão

Do descaso e da exploração

Montaram-se e desmontaram-se hospitais provisórios

Deram auxílios compulsórios

Esmolas e doações

Juntamente com impostos e sanções

Vi o veto ser contestado

E o voto ser ansiosamente desejado

Mas o vírus voltou

O povo votou

E nem tudo mudou

E o que todo o mundo viu

Foi que a máscara caiu!

Cristina Pires, São Paulo (SP)